Vamos fazer barulho!

"Tome partido. Neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. Silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado."
(Elie Wiesel, sobrevivente de Auschwitz, Nobel da Paz, que morreu dia 02/07/2016 aos 87 anos)


Acabo de ler isso na página de um amigo no Facebook.

A semana foi recheada de fatos com mortes e atentados horríveis à vida humana. Fazer uma homenagem a quem sobreviveu ao horror de um campo de concentração e extermínio é o mínimo. Memória.

Tantas agressões em nome de outros sentimentos que não o puro ódio, a pura ignorância. Agressão em nome de Deus, em nome de uma raça pura, em nome da verdade, em nome do machismo. Só preconceitos e ilusões.

Mas, como nem tudo são flores ou bombas, tive uma experiência prazerosa em um trabalho que divido agora.Fui chamada a gravar uma locução em homenagem à Luiza Brunet, vejam só.
Ela é a embaixadora do Instituto Avon que defende a mulher brasileira em duas causas: o fim da mortalidade pelo câncer de mama e o combate à violência doméstica. 
Quando foi alçada a esta função disse querer "representar a força da mulher brasileira que deseja e merece ser completa: ter beleza e saúde, ser respeitada, admirada e ter autonomia dentro da família e da sociedade".

Indo à agencia onde gravei o trabalho, fui orientada e recebida por uma pessoa de dentro da Avon que esteve em varias ocasiões com a própria Luiza em eventos e situações envolvendo o Instituto. A conversa, após acertarmos o briefing do trabalho e realizarmos a gravação, versou sobre a simpatia, a delicadeza, a total disponibilidade de Luiza em dar atenção a todos, autógrafos, fotos, carinho mesmo. Uma mulher de verdade. Sem frescuras e muita simpatia.


Saí de lá pensando em Luiza, esse nome que é pura música, a sua figura bela, lembrei de seu sorriso. Pensei em quão alegre ela parece, satisfeita com a vida que tem. Pensei no fato de ela não ter se tornado mais uma celebridade descartável, um arremedo da beleza que já foi, entupida de plásticas, batons melados escorrendo e situações infames. Discreta, bela, simples.

É Luiza , eu gosto de você também, pensei. Agora um pouco mais.

Tempo.


Dia seguinte a bomba: Luiza agredida pelo companheiro. Como?

A Luiza? Levou um soco? Chutes? Costelas quebradas?
Como assim?  E ela veio a público. Um mês depois? Porque só depois desse tempo todo? 
Isso não fui eu quem perguntou. Porque eu sei, como mulher agredida que fui, que os sentimentos são muito confusos nessa hora. Ambiguidade. É uma situação pra lá de insólita ver no companheiro que lhe acariciava, a quem você dedicava sua atenção e amor, que você esperava que lhe estendesse a mão em momentos necessários da vida,  um agressor estúpido sem escrúpulos, e por muitas vezes sádico, tirando certo prazer na submissão que está impondo a você naquele momento.

Só assim é que esse tipo de "torturador" se sente no comando. No domínio da situação. Mulher machucada, agredida, desacordada, acuada, com medo. Submetida à sua "força".


E a agressão, a tortura, começa sempre mansa. Agressões de costelas quebradas, olhos roxos sao perigosas e cruéis, mas a agressão verbal, psicológica é muito devastadora.


Daí muitas vezes o silêncio do torturado. O bombardeio psicológico desprepara a pessoa para a reação à agressão. Como ocorreu na história com povos e comunidades, submetidos pelo medo, pelo sentimento de fraqueza inculcado objetivando sua destruição.


Vamos dar voz e força aos agredidos e torturados. Que nossa memória registre essas histórias e que tomemos partido claro nessas situações.  Tomar partido, posição, nos induz a pensar profundamente sobre os fatos, trazê-los para o cenário hipotético de nossas vidas (empatia eu diria), chegar à conclusões e comprometimento consigo mesmo e com a sociedade. 

Comprometimento, palavra que tem origem no termo latino compromissus, que indica o ato de fazer uma promessa recíproca, baseada na responsabilidade implícita nesse ato.












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